João Pedro Schrott à Revista do Parafuso: “Cuidado ao comprar produtos de origem duvidosa.”

Em entrevista, o presidente da Walsywa afirma: “Em feiras, o que encontramos com frequência são traders que fingem ser fabricantes.” Leia a entrevista completa abaixo.

Desde 2004 tenho visitado feiras na China, somando mais de 10 participações em diferentes regiões. No início, era comum ver muitos europeus e americanos nesses eventos, mas nas edições mais recentes a presença deles diminui consideravelmente. Isso se deve a fatores como reshoring (trazer a produção de volta para seus países) ou nearshoring (busca por alternativas mais próximas), especialmente no cenário pós-pandemia.

O que me chama mais atenção hoje é o aumento de visitantes do Oriente Médio e do Brasil. Muitos chegam em grandes grupos, acompanhados de influenciadires digitais em busca do famoso “negócio da China” – comprar produtos baratos para revender em grandes volumes.

É aí que surge minha preocupação. A China possui excelentes indústrias, mas muitas delas não participam dessas feiras. O que encontramos com frequência são traders que fingem ser fabricantes. Após algumas perguntas, fica claro que não são. O problema é que esses traders buscam sempre o fornecedor mais barato, sem se preocupar com a qualidade. Isso tem levado empresas brasileiras a importar produtos de qualidade inferior que, embora ofereçam preços atrativos, podem acarretar sérios problemas no futuro.

Estou especialmente preocupado com produtos de segurança, como os chumbadores. Recentemente, testamos uma série de chumbadores comercializados por novos importadores e os resultados foram alarmantes: muitos suportaram apenas metade, ou até um terço da carga prevista. Além disso, esses produtos não apresentavam tabelas de cargas em seus sites ou materiais de divulgação, sendo vendidos apenas com base em suas dimensões, sem garantias de desempenho.

Esse é um risco enorme pois projetistas especificam os produtos confiando nos dados técnicos de empresas que fornecem informações detalhadas sobre a capacidade de carga. Quando lojistas ou aplicadores adquirem produtos sem essas garantias, correm o risco de falhas graves no futuro – imagine uma estrutura pesando toneladas que pode desabar, gerando não só prejuízos financeiros, mas também colocando vidas em perigo.

Por isso, deixo um alerta final: a economia que parece vantajosa à primeira vista pode sair muito mais cara no longo prazo. Teste os produtos, exija tabela de cargas e escolha fornecedores que priorizem a qualidade. Afinal, a segurança e confiabilidade de um projeto valem muito mais do que o menor preço.

João Pedro Schrott – Presidente da Walsywa

Entrevista concedida à Revista do Parafuso, Ano 19, Nº 109, Pág. 36. Disponível em https://www.calameo.com/read/006171191855a5c24e28d